quarta-feira, 15 de julho de 2009

Hino a Pan...ops, a Renúncia.





"Eu renuncio o espírito santo, eu nego a deus perante a mim.
Eu renuncio Dogmas a muito erguidos para esconder os medos próprios do desconhecido.
Nego a descendência divina e abraço minha simieciedade, não sou a imagem do perfeito nem moldado por ele, sou lama e acaso, sou fruto indesejado e evolução sem sentido.
Eu não serei escravo de regras criados pelos meus semelhantes, não serei servo de servos.
De pedestais e em forma de deuses e costumes descansam aqueles que me vigiam com seus olhares atentos a julgar cada ato meu, do alto vêem minha humanidade e desprezam o medo da vida que resolvi abraçar.
Não terei medo do inevitável, não me esconderei em altos patamares, em altos pedestais tentando me equilibrar e não cair nas sombras. Saltarei para elas!
Que minha fantasia e minha razão sejam as asas que me guiarão para as trevas, cada vez mais fundo para que assim possa ver verdadeira Luz.
Que o paradoxo me mantenha na eterna busca e me nunca me torne feliz, acomodado.
Renuncio a convenções e a medos humanos.
Nego as tradições e as verdades dos filhos de deuses para me tornar aquilo que verdadeiramente sempre fui.
Deixe que tragam a luz..."

M. Antônio Amaral.

Simples assim.

A morte é perpendicular. Minha bebedeira me lembrou o quanto ser humano é desprezível e odiável. O tanto que somos fracos e vulneráveis a algo que sequer podemos ver. O quão facilmente ludibriáveis somos. Como é fácil nos deixar enganar. Lembrei-me que escrever, quando se escreve pensando em alguém que se sente saudade, dói. Eu me lembrei de muita coisa quando bebi, e me esqueci de outras mais, como quem me trouxe em casa ou quem eu era. Eu não bebi por nada. Não queria chegar a lugar nenhum. Só não queria me lembrar dela quando estivesse naquele estado. É degradante ser assim, humano. E mais degradante que ser humano, é ser assim, um humano com saudades. Pior que um humano com saudades, é ser um humano que não aceita sua condição e suas fraquezas e tenta esquecer o que lhe gravaram. Ah, incondicionalmente humano, demasiado insistente, quiçá, normal. A morte trás tudo ao normal, perpendicularmente, abrupto, doce como um cálice de vinho. Adocidado com veneno, sobressaltemos. Ahh, palavras. Simples assim.

J. Martins Soares Branco

sábado, 11 de julho de 2009

O fim final




Abrir os olhos de manhã parece bem difícil para alguns. Para João, no entanto, difícil era fechar os olhos à noite. Insônia não era um mal que lhe afligia. O que o impedia de pregar os olhos era apenas o medo.

Quando criança ele tinha medo de que os pais morressem. Acordava depois de pesadelos horríveis nos quais os pais sofriam todo tipo de colapso, acidentes aéreos, cortes na garganta, tiros e facadas... Joãozinho cresceu um pouco e aprendeu que seus pais são praticamente super-heróis. Passou a considerar a morte deles algo inimaginável e, desde então, começou a temer outras coisas. Aos 12 anos temia não ser tão alto, aos 13 não ser tão magro, aos 14 não ser amado por Maria, aos 15 amar Pedro, aos 16 não ter aquilo avantajado, aos 17 não conseguir sair da escola, aos 18 não entrar na faculdade, aos 20 não conseguir emprego....

Não se pode negar que as fobias, por mais idiotas que sejam, motivam nossas vidas. No fundo, João queria ser alto, esbelto ter alguém pra chamar de amor, pra fazer amor, pra ser motivo de orgulho, para ganhar a confiança das pessoas com as quais ele convivia. Regras da sociedade....

Quando nascemos e nos tornamos crianças que têm ao seu lado dois super-heróis, acabamos por pensar que seremos protegidos por eles eternamente. O que ocorre, no entanto, é que, ao crescer, começamos a pensar que os heróis somos nós! Tememos não atingir os padrões necessários para que nós passemos a ser os heróis de alguém. João conseguiu uma pessoa pra dizer que o ama, pra lhe abraçar à noite na cama, para ama-lo e nem sempre respeita-lo afinal, como diria um poeta, “Ser fiel não é apenas não beijar, não tocar. Ser fiel é, na verdade, pensar em como a outra pessoa se sentiria se fosse um mosquitinho e estivesse ali do lado... assistindo a tudo, ouvindo tudo”.

O problema é que ao ser o herói de alguém, chega um momento em que você descobre que esse alguém pode ser um vilão. Amor não é sinônimo de fidelidade. Sofro com isso e continuo a amar e a perdoar.

Ainda quem não sofre com problemas sentimentais, como o João, aprende com a dor que nada dura para sempre. As amizades se esfriam com a distância e, aqueles que antes te confidenciavam a vida, sequer lhe olham a cara. Os amores lhe machucam. Quem diz não viver sem você vive no MSN com amores secretos que você finge não conhecer. E, por fim, os heróis da infância, aqueles que protegeram esse menino até quando ele recusava ou fingia ouvir seus conselhos, se vão. O resto da vida de João passou a ser, então uma busca incessante por alguém que lhe oferecesse algum tipo de amor verdadeiro até ser enterrado depois de uma cerimônia realizada por pessoas que a cada dia se lembrarão menos dele.

No fim, acabamos como o João: sem pai, sem mãe, sem amores que nos abracem de conchinha na última cama que ocuparemos a sete palmos. Não tenho medo da morte, tenho medo, de, assim como o João, morrer sem alguém que supra o cúmulo do egoísmo que me faz querer me sentir amado. Tenho medo de acabar sozinho!

A. Fernandes